terça-feira, junho 20, 2006

Cinematographe Lumière

Pela primeira vez desde que cheguei, o dia amanheceu com sol. Meio tímido, meio enevoado, mas como nao sair para dar uma caminhada. Afinal, estou em plena Côte D'Azur. O mar está logo aqui, ao virar da esquina. Ir até lá e olhar para aquele azul todo é como fazer uma reverência à cidade. Coisa de carioca.Vesti meu tênis, minha camiseta a lá fui eu pela Croisette afora. O movimento já estava começando. Os locais arrumavam os seus quiosques, corredores corriam, os atletas bicicletavam, o trabalhadores trabalhavam e senhoras e senhores passeavam com seus chiens. O pessoal de apoio do Festival passa por mim apressado em direção ao Palais. Baguete em baixo do braço, blusas de listras azul-marinho, cesta de palha com frutas e jornal, a manhã de Cannes começa como todas as manhãs do mundo. Aqui e ali painéis rotativos apresentavam os seus cartazes. O anúncio do festival de música clássica para julho dava o tom da caminhada.
Na areia, como cogumelos, barracas ainda por abrir faziam um silêncio respeitoso às primeiras espreguiçadas e braçadas dos banhistas mais afoitos. Transatlânticos solenes e altivos (dois, enormes!) observavam de longe o acordar na baía de Cannes. Com a bicicleta encostada nas pedras do cais ali embaixo, uma jovem parecia parada no tempo. De biquini duas peças e chapéu de abas, sentada assim meio de lado sobre uma toalha, conversava calmamente com um rapaz moreno de calção. Depois de viajar naquele take, olhei para o outro lado e lá estavam o Hotel Carlton, o Martinez, o Grand Hotel, os prédios da Riviera, palcos de tantos filmes e livros que vi e li. Senti que aquilo tudo me era muito familiar. Só faltava mesmo passar um conversível vermelho, para que eu, de lenço esvoaçante e valise, embarcasse em mais uma viagem de sonho. Mas os milionários acordam tarde e os atores, dizem, só levantam cedo quando estão nos sets de filmagem.
Fim do filme, luzes acesas, olhada no relógio. Está na hora de cair na real (ou será virtual?). No caminho, os cartazes continuam a rodar suas mensagens. Existem mais pessoas no mundo a utilizar a internet do que a ver televisão, avisam. Dobro uma esquina para comprar uma garrafa de água no primeiro supermercado do caminho. Surpresa! lá no fundo da rua, um enorme letreiro do Cinematographe Lumière com a foto dos dois irmãos. Por uns instantes, tive a certeza que eles estavam a me saudar. Salut!

15 comentários:

Anônimo disse...

Que beleza de texto. Tão carioca ... e tão mediterrâneo.

Anônimo disse...

Só tem texto piegas mesmo nesse blog?
A gente não é índio não, minha querida. Sabemos como é Cannes, sabemos que os franceses comem baguete e sabemos que na Cote D'Azur tem praia.
Vai ter alguma notícia interessante sobre o FESTIVAL DE PROPAGANDA que está acontecendo na cidade ou vamos ter que aguentar todo esse deslumbre breguérrimo?

Anônimo disse...

Falou e disse Eunides. Quando vi o link no bluebus achei que poderia ser alguma coisa interessante. Mas, como você bem colocou, é cafona demais. Está parecendo "meu querido diário" de menina de 10 anos inda pela primeira vez a Disney.

Falando nisso, a redação também está super "Disney". Poesia pura. Nossa...

Uma pena que o bluebus apoie iniciativas como esta, ao invés de focar no que importa: propaganda.

Anônimo disse...

Olha, de verdade, poucas vezes na minha vida publicitária vi tamanho despreparo, tamanho deslumbre, tamanha quantidade de tolices em tantes linhas desperdiçadas.
Não me importaria, e irritaria, tanto, se esta quantidade enorme de tolices não estivesse justamente num site voltado para o mercado publicitário. E pior, com o aval do Blue Bus. Com o aval e convite do Julio.
Conselho um? Tirem esta besteira do ar.
Conselho dois? Entrem no site do Janela Publicitária, lá a coisa está sendo levada infinitamente mais a sério. Lá tem um correspondente de verdade informando. Impressionante, né? Mas alguns correspondentes informam de verdade.
Conselho três? Menina, se não quiser desistir de tamanha tolice em forma de blog ao menos mude o nome, pois seu leão não ruge, no máximo o seu leão está rouge de vergonha por tantas besteiras de uma deslumbrada em Cannes.
Só lamanto.

Anônimo disse...

Olha, gostei muito deste texto e revivi momentos semelhantes lá na Croissete. Muito legal, Clay

Anônimo disse...

vamos ver a cobertura a partir do blog q o Jornal Diario de Pernambuco disponibilizou em seu site:
www.pernambuco.com/blogs/cannes

Vencedor da etapa Nordeste, Fellipe Figueiroa, redator da agência pernambucana Arcos,está fazendo uma cobertura bacana.

Juju

Anônimo disse...

Sou um consumidor. De produtos e de publicidade dos produtos. Apesar de não ser do ramo, este é um assunto que há muito tempo me interessa, pessoal e profissionalmente – sou sociólogo e me atraem especialmente as formas como as sociedades se arranjam para se comunicar. Por isso acompanho o Blue Bus e outros informativos da área. Não entendi as críticas tão pedantes e até mesmo ofensivas a uma crônica inteligente, sensível e bem escrita.
Alguns publicitários são até engraçados: miram tanto os seus próprios umbigos, se acham tão fenomenais, criativos, gostam tanto de trocar medalhinhas e trofeuzinhos nos trocentos festivais que (se) promovem (acho mesmo que este é o verdadeiro mercado da publicidade) e não conseguem olhar em volta, que é o que realmente interessa – até para poderem fazer direito o seu trabalho. Que é somente e tudo isso: um trabalho, tão importante como governar um país ou varrer uma rua.
Eunides: as notícias sobre o Festival estão em vários lugares, inclusive na boa cobertura do Blue Bus. Não precisa o blog para informá-las.
Carlos Henrique: poesia pura é muito bom, não é só a propaganda que importa (para que usar antolhos o tempo todo?).
Eduardo: não só no Janela, como no BB, assim como em vários lugares (inclusive o próprio site do Festival) você pode se informar sobre o que está acontecendo. Diga-me uma coisa: demorou muito tempo para fazer um trocadilho tão criativo com o “rouge”? Será que com ele consegue um aumento – ou um emprego?
Marise: não lhe conheço, mas venho acompanhando suas notas no BB, assim como de outros colaboradores, como a Yami, trazendo tópicos diferentes, simpáticos e sempre olhando em volta. Ótima cronista.
Jean-Paul

Anônimo disse...

Pessoal,para evitar interpretações erradas a meu respeito. Estou acompanhando esse blog assim como o do Fellipe Figueiroa, no site pe.com. Apenas quis aproveitar esse espaço para divulgar o blog de um amigo.
bjs, Juju

Anônimo disse...

Nada contra informar sobre assuntos paralelos ao Festival. Em volta do Palais acontece muita coisa interessante. Só não aguento é esse olhar deslumbradinho mesmo. Como se fôssemos todos aborígenes que nunca vimos a França na vida. E eu lá quero saber se a menina comprou bicoitinhos deliciosos no Monoprix? Que coisa mais brega, pelo amor de deus. Até agora só vi falta completa de substância. Pelo jeito, o Júlio mandou essa garota para Cannes a toa. Ela está mais interessada em fazer relatos redundantes sobre a cidade de Cannes do que falar do Festival. Péssimo. Nota zero.

Ainda bem que alguém citou a Yami. Para mim, entra na mesma categoria. Só muda a cidade que é alvo de tanto deslumbre tupiniquim.

Anônimo disse...

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Olá Marise!
eu entrei pra colocar um comentário sobre a delícia de ler o seu texto, em plena quarta-feira-avenida-esfumaçada-paulista, no meio de uma tarde cheia de jobs a serem finalizados e entregues, e me surpreendi ao ler os comentários acima criticando o seu texto. E que texto!... Saboroso e leve como o seu lenço esvoaçante fremindo no seu imaginário conversível vermelho...
Bluebus tem disso também, gente: não é só a notícia pura e os números de quantos ganharam isso, quantos ganharam aquilo. Isso qualquer um pode fazer ou ler em outro lugar.

Mas sei lá, esses são tempos bicudos, em que as pessoas não se permitem mais um pequeno momento de devaneio, de abstração. É "racionalidade" e "foco na carreira" o tempo todo... Que pena, perdem o melhor da vida por conta de se acharem ou melhores, ou piores, ou menos bregas, ou o que seja. Sem falar, claro, na gratuidade do ataque, na pouca delicadeza das palavras... Se não gostaram, procurem um outro blog, uma outra praia, quem sabe? Algo que seja mais perto da "fogueira das vaidades" que tanto querem ver refletida aqui no seu pequeno e charmoso espaço.
Eu ainda prefiro você, seu texto e seus comentários sobre as baguetes e o aroma e o cheiro do mar e o sol que principia a brilhar...
Como diria Mário Quintana, "esses que aí estão, atravancando o meu caminho... eles passarão, eu passarinho" :-D

Beijos afetuosos :-)

pedro mozart / pedro@urbana.com.br

Anônimo disse...

Quando disse "poesia pura" estava sendo irônico. Não sei se pescaram...

Aliás, deve ser algum tipo de virose que está dando por aí. Esse moço aqui em cima consegue superar a breguice da blogueira. Pior que ser deslumbrada com Cannes é ser deslumbrado com a breguice dos outros. Jesus!

"Poesia pura", assim, com aspas, para ninguém se enganar.

Mário Quintana se revira na tumba.

Anônimo disse...

uau senhor carlos henrique,
que coisa heim?
de minha parte, não tenho nenhum medo em ser ou parecer brega.
é até divertido, a gente pode fazer o que quer, quando quer, sem ter que atentar para regras estabelecidas de bom-mocismo, bom gosto ou o que seja.
se o brega é o oposto do que o senhor é ou pensa que seja, me sinto muito bem sendo classificado dessa forma hehehehe...
viva o brega :-)

Anônimo disse...

Nossa!
Essa gente que morre de medo de ser brega, seja lá o que isto for, é uma praga sem fronteiras.
Inveja é uma merda!
Adorei o texto, Marise!

Branco Leone disse...

Marise: o bom da vida é saber olhar e aprender, lição maior (senão única) de Jacques Tati. Fazemos isso quando somos crianças, fazemos isso quando envelhecemos. Em outras palavras, fazemos isso apenas quando não damos importância aos outros.
Olhei seu blog, li seus comentários, e aprendi: NUNCA MAIS na minha vida, quando alguém me perguntar qual é minha profissão, direi "publicitário". Seja escritora você também.

Solange Menezes Moura disse...

Oi, Marise, sou a Solange, prima da sua prima Beth! Como vai voce?
Vim aqui depois de ver no meu facebook um comentario da Beth sobre seu blog.
Li bastante coisas, gostei muito de tudo. Esse texto de Junho de 2006 esta excelente! Super bem escrito, em todos os sentidos. Adorei o passeio.Eu me senti la, no seu lugar, ou melhor, andando com voce, apreciando aquela divertida manha. O texto recebeu varios comentarios, alguns bem merecidos, outros escritos por pessoas com uma visao tao limitada da vida! So conseguem ver um coisa de cada vez...
Adorei, Marise!
Beijos,
Solange