terça-feira, janeiro 30, 2007

Sobre Nomes

Já faz parte do bilhete de identidade de todo publicitário, carregar acoplado no seu nome, o da agência em que está ou esteve a trabalhar. É o fulano da McCann, o beltrano da Giovanni, quando não se usa o ex para dar uma localizada rápida no executivo em questão. Sicrano da Silva Pereira, ex-JWT, ex-Salles, ex-Talent e atual W Brasil. Status pouco é bobagem.
Difícil e extremamente complicado é quando chega a hora de mudar, digamos assim. Algumas vezes, mais do que depressa aparece um novo sobrenome. Outras, demoram algum tempo e em certas ocasiões, que nem é bom lembrar, chega-se mesmo a ignorar alguns deles, sem remorso nenhum.
Que espécie de gente diferente essa. Acostumados ao troca-troca da profissão, carregam vários sobrenomes e mudam de embalagem com a maior facilidade, como as marcas para que trabalham.
Por falar nisso, começam a aparecer os nomes dos diretores de criação que vão fazer parte dos júris do festival de Cannes. Alguns nossos conhecidos, outros ilustres desconhecidos. Mas, pelos sobrenomes, vai ser fácil reconhecê-los. O Bob Scarpelli DDB Worldwide será o presidente dos júris de Film e Press, Alex Bogusky Crispin Porter + Bogusky presidirá o júri do Titanium. As feras já começaram a rugir.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

De olho na tela II - Sim ou Não, eis a questão

Mudando um pouco de assunto, vamos falar de questões mais políticas, digamos assim. O mercado de publicidade tem um certo preconceito sobre o assunto. Mas, pelo que tenho observado, algumas campanhas e algumas ideias poderiam perfeitamente concorrer a algum leão em Cannes. É jogar os homens às feras, literalmente. E, pensando bem, alguns até que merecem.
Aqui em Portugal, estamos em plena pré campanha para o segundo referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG). No primeiro, em 1998, venceu o Não. Existe uma lei injusta que penaliza ou melhor, manda para a prisão, as mulheres que, coitadas, além de terem feito o que ninguém quer fazer, ainda vão a julgamento e podem até parar na cadeia. Sofrimento pouco é bobagem.
Voltando à Campanha, não se fala de outra coisa. Debates, opiniões, conferências, discussões e os mais diversos pontos de vista são colocados na nossa frente, assim, nu e cru. A intimidade feminina está a ser devassada por todos. E pior, o direito de decidir sobre a pior das decisões é questionada com argumentos inacreditáveis, principalmente pelos apoiantes do Não. Nas ruas, outdoors e folhetos inundam a cidade de sangue. É para esclarecer, dizem, como se a condição feminina não soubesse. Votar Sim, mudar uma lei injusta, é uma exigência dos novos tempos. Tempos de modernidade, tempos de uma nova Europa dos cidadãos e cidadãs, onde este país está inserido.
Como nem sempre os melhores anúncios de oportunidade são veiculados nos espaços comerciais, uma cena brilhante, com duas atrizes fantásticas, fez o favor de colocar um dos argumentos utilizados pelos apoiantes do Não em pleno horário nobre. Foi numa cena em que a Doutora Helena e a avó dos gémeos, do Páginas da Vida, se encontram frente a frente, numa conversa carregada de emoção. O diálogo entre as duas, no contexto da novela, mais do que perfeito. Como argumento para a Campanha do momento, imperfeito e tendencioso.
Acredito que nada do que entra na nossa telinha é por acaso, principalmente se levarmos em consideração que este capítulo foi veiculado num domingo à noite. Por isso, a campanha pelo Não já começou. E, mais uma vez, sem levar em conta que o que está em causa no referendo é a clandestinidade do ato, prejudicial à saúde física e psíquica da mulher. Um Sim à cena. E um Não à oportunidade perversa e manipuladora.


segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mania de você

Todos nós temos um pouco de jurados dos filmes em Cannes. Quem não gostaria de estar lá, vendo aquele monte de idéias e decidindo o quem é mais e melhor da nossa profissão. Mania de grandeza ou o mercado pensante em ação? De minha parte, já há algum tempo que comecei a fazer a minha seleção particular É uma mania, mas que não é só minha. Tem muito boa gente, que não confessa, mas vai pelo mesmo caminho.
O primeiro sinal de alerta acontece quando você está em frente a uma televisão e é literalmente apanhado pelos tais trinta segundos. Por algum desses motivos inexplicáveis, você para imediatamente o que estava fazendo e congela. Em seguida, exclama bem alto para quem quiser ouvir ‘Ótimo, esse leva um leão’. Mas, o pior vem depois. A partir daquela primeira vez ficamos mais atentos e, por incrível que pareça, fazemos zapping nos intervalos publicitários, para ver o tal filme agora observando melhor os detalhes.
Bem, isso dura aproximadamente umas cinco, seis aparições. Só ficamos satisfeitos quando tudo está bem registrado para, com a segurança de um criativo, poder comentar a brilhante ideia com os amigos. Dali pra frente, não tem jeito. Começamos a torcer pelo tal comercial como se ele tivesse sido feito por nós. Não sabemos quem criou, qual foi a agência mas uma certeza a gente tem. A de que aquele vai ser um sério concorrente em Cannes.
O filme da Mercedes é um deles. Não sei quem fez, quando, onde e até se já foi premiado. Ter um carro como este nem faz parte do meu sonho de consumo assim, como direi, mais imediato. Mas, tudo é bom nele. A luz, a música, a mensagem, a ideia, o produto, a estrada e até aqueles monstros invisíveis que se transformam pelo caminho.
Já viu? Então veja de novo.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Ginástica para os neurónios

Daqui a pouco é junho e olha aí mais um Festival de Cannes. As inscrições começaram e nas agências, mais trabalho. A escolha do quem vai nos representar, o que mandar este ano, o se vale a pena investir tanto dinheiro e a grande incógnita, presente em todas as reuniões, a do será que este ano a gente traz um leão, já estão esquentando as conversas no café.
Acho sempre que quem não arrisca, não petisca. O ditado pode ser velho, e é, mas também acho, depois da minha experiência por lá no ano passado, que mais do que trazer leões, quem tem a sorte de participar de um evento como este, tem a obrigação também de olhar para os lados. Nos bons e nos maus sentidos, se é que existem.
Achismos à parte, assistir às primeiras seleções de filmes, ter tempo para examinar os anúncios que ficam por ali, generosamente expostos, subir e descer as escadarias - sem deixar de olhar bem para os lados - à procura dos auditórios, ouvir e entender o que dizem os palestrantes são um bom começo para o exercício diário de atenção a que somos submetidos. Depois da ginástica para os neurônios, o prazer, porque também ninguém é de ferro.
As festas, os jantares, as entregas de prémios, os encontros com os amigos e a Riviera bem ali a nos lembrar onde é que nós estamos, também fazem parte da paisagem. E que paisagem.
O leão é importante? É, e muito. Mas não se esqueça que tem um circo todo armado à nossa espera. Como em todo espetáculo, vê melhor quem paga o ingresso mais caro. Mas, usando a tal da nossa criatividade, mais do que reconhecida nos quatro cantos do mundo (exagero?), tenho a certeza que se marcarmos presença, de qualquer lugar vamos assistir e participar intensamente deste desfile de novas ideias do chamado mercado da comunicação.
Publicitários e publicitárias, leões e leoas preparem-se. Cannes é logo ali!

Trabalho, suor e…

Sangue novo para esta nossa profissão. Além da famosa e já tradicional competição dos sortudos Youngs, pela primeira vez o Festival vai abrir as portas, por sinal sempre muito bem vigiadas por seguranças, para estudantes das áreas de marketing, comunicação e publicidade.
As universidades interessadas podem mandar os seus pupilos assistirem aos seminários e workshops que vão estar no programa. Com certeza, esses felizardos vão desde cedo aprender que a tal da inspiração exige muito trabalho, suor e … cerveja?

De olho na tela I - Leão de lata

O Youtube não nos deixa mentir. Ciccarelli com o namorado numa praia da Espanha, Saddam com a corda no pescoço em Bagdá. A celebração da vida e o fatídico encontro com a morte já anunciada.
Na tela dos celulares o olho indiscreto, curioso, perverso e doentio de todos nós. Tentativa de censura, críticas, arrependimentos, para quê? É o espelho do nosso tempo, onde a intimidade é constantemente violada, refletida e veiculada quase como um comercial no chamado horário nobre. O primeiro Leão de lata em Cannes.