quarta-feira, outubro 14, 2009

Desabafo em Lisboa

O plano foi perfeito - o alvo escolhido, uma peça ‘tão engraçada e inocente’ feita pela atriz brasileira Maitê Proença para o GNT, sobre um país chamado Portugal. Alguém descobriu a dita - o vídeo é de 2007, colocou no Youtube, avisou a quem interessar possa e acendeu o rastilho. Matérias nas TVs, nos jornais, sites, blogues, google, twitters, e-mails, opiniões on e of line inundaram o dia e a paciência de uma cidadã luso brasileira como eu que foi obrigada a interromper várias vezes o que estava fazendo para responder a inúmeras perguntas, ouvir opiniões absurdas e algumas provocações nada simpáticas.

Mas será que este “fait divers”, como costuma dizer um jornalista amigo meu, merece tanta relevância chegando até a ser noticiado no horário nobre? Infelizmente, parece que sim. Em pouquíssimo tempo, estava armada a grande saia justa onde algumas vozes ditas responsáveis se sentiram profundamente ofendidas com a má educação e falta de informação da famosa em questão e, sem medir esforços nem cuidados, atacaram e reagiram como puderam. Sem limites e de arma em punho saíram disparando palavras e imagens em todas as direções, desencadeando uma nova onda de xenofobia, complexos, visões retorcidas, preconceitos e ressentimentos adormecidos contra quem não tem nada a ver com isso - os brasileiros e brasileiras que por cá vivem.

Passado o susto e a fúria inical, está na hora de recolher os cacos e apresentar as necessárias desculpas. Aceitas ou não, fica difícil de entender que no ainda início deste novo século, onde sem o menor esforço aprendemos a deletar o supérfluo, plugar emoções sem remorsos e a fazer zapping nos nossos sentimentos e opiniões, não somos capazes de lembrar de uma frase nada original que ouvi num passado não muito distante - a comunicação é uma arma poderosa e a atenção e o respeito pelo público devem estar em primeiro lugar. À distância de um click, todo o cuidado é pouco.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Rio de Janeiro, fevereiro, março...


Um guia de uma carioca para ser feliz no Rio. Jogos Olímpicos 2016 - estou na torcida!

Minha cidade é para ser vista, adorada e observada nos seus mais pequenos detalhes. Como uma jóia rara, ela brilha de felicidade toda vez que a chamam de maravilhosa. Em troca, ela reflete o mais belo pôr do sol (na pedra do Arpoador, às 6:30 da tarde) e um amanhecer suave, de um azul inesquecível, onde não se consegue distinguir a linha imaginária que separa o céu do mar (será que no Rio ela existe?).
A Mata Atlântica, verde e forte, recobre com seu manto sensual os morros e montanhas (em qualquer dia da semana, caminhe pela orla da Lagoa. Aos domingos, caminhe nas Paineiras - nas encostas do Corcovado - e aproveite para se banhar numa das cachoeiras do caminho. Visite a Floresta da Tijuca e o Jardim Botânico). Minha cidade tem pedras enormes, brilhantes, com nomes inesquecíveis: Pão de Açúcar; Dois Irmãos, Pedra do Leme, Pedra da Gávea. Da enseada de Botafogo passando por Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado, elas estão lá a indicarem o caminho. Pegue a Av. Niemeyer e vá em direção à Barra da Tijuca e ao Recreio do Bandeirantes. Mar intenso e areais imensos.

Minha cidade é para ser lida e ouvida. Para os melhores discos de música brasileira, a Modern Sound, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Sinta o ritmo da verde e rosa que mora no coração de todos os cariocas e faça uma visita à escola de samba da estação Primeira de Mangueira em dia de ensaio. Um show no Canecão em Botafogo e/ou o Mistura Fina na Lagoa. Tem sempre alguém cantando por lá. A melhor livraria? a Argumento, na Rua Dias Ferreira, no Leblon. Livros preciosos de literatura brasileira e um stand com ótimos CDs.

Minha cidade é para ser consumida. Os seus inúmeros Shoppings-Centers (o Rio Sul, em Botafogo e o Barra Shopping, na Barra) valem uma visita. Cuidado para não se perder nos corredores e nas vitrines com o que existe de melhor da moda verão.

Minha cidade é para ser provada e aprovada. Picanha e caipirinha? Tem. Vá ao Porcão, qualquer um deles, e ao Mariu’s no Leme. Peixe e frutos do mar? Tem. Só que o melhor fica um pouco longe mas vale o dia. Vá à Tia Palmira, na Barra de Guaratiba, prá lá do Recreio dos Bandeirantes. Feijoada? Tem. Sempre às sextas ou sábados em qualquer restaurante. Visite uma feira livre num dos bairros da cidade e veja o colorido das suas bancas de frutas; a Feira de São Cristóvão, no bairro do mesmo nome, reduto dos nordestinos, com comidas típicas, cantares, danças e falares desse pedaço do Brasil e a Feira Hippie, aos domingos, na Praça General Osório, em Ipanema, pra comprar lembranças para o seu exército de amigos.

Minha cidade tem milhões de habitantes. Gente que acorda cedo, trabalha e dá duro durante toda a semana. Perca-se na multidão. Pegue um frescão ( autocarro com ar condicionado) e vá até ao Centro: Av. Rio Branco, Cinelândia, Av. Presidente Vargas. Ande à pé e tente atravessar uma dessas avenidas no meio do povo. É uma sensação indescritível. Aproveite para visitar a Biblioteca Nacional, o Museu de Arte Moderna no Aterro do Flamengo, o Teatro Municipal e a Escola Nacional de Belas Artes. É tudo próximo. Vá até à Praça Quinze e descubra um pouco do Rio Colonial. Atravesse de barca, até Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara e visite um dos mais lindos museus do mundo: o Museu de Arte Contemporânea, arquitetura do genial Oscar Niemeyer.

Minha cidade tem a Zona Norte e os subúrbios. De metrô, visite o Maracanã. O maior estádio de futebol do mundo, fica lá. São bairros aprazíveis, com um charme e uma vida muito próprios. Pra lá do túnel e do sambódromo.

Minha cidade tem cariocas, nordestinos, mineiros, paulistas, tem o Brasil inteiro. Minha cidade tem portugueses, japoneses (ótimos restaurantes), italianos, judeus e árabes (na rua da Alfândega, no centro, eles vivem em paz nas suas lojas), tem o mundo inteiro. Minha cidade é de todos. Aproveitem!

quinta-feira, outubro 01, 2009

Outono na janela


Nevoeiro, névoa, voa no final da tarde sobre os telhados.
Oeiras em silêncio se esconde debaixo do cobertor.
O outono chegou apita o farol do Buuuuuuugio.