quarta-feira, janeiro 24, 2007

De olho na tela II - Sim ou Não, eis a questão

Mudando um pouco de assunto, vamos falar de questões mais políticas, digamos assim. O mercado de publicidade tem um certo preconceito sobre o assunto. Mas, pelo que tenho observado, algumas campanhas e algumas ideias poderiam perfeitamente concorrer a algum leão em Cannes. É jogar os homens às feras, literalmente. E, pensando bem, alguns até que merecem.
Aqui em Portugal, estamos em plena pré campanha para o segundo referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG). No primeiro, em 1998, venceu o Não. Existe uma lei injusta que penaliza ou melhor, manda para a prisão, as mulheres que, coitadas, além de terem feito o que ninguém quer fazer, ainda vão a julgamento e podem até parar na cadeia. Sofrimento pouco é bobagem.
Voltando à Campanha, não se fala de outra coisa. Debates, opiniões, conferências, discussões e os mais diversos pontos de vista são colocados na nossa frente, assim, nu e cru. A intimidade feminina está a ser devassada por todos. E pior, o direito de decidir sobre a pior das decisões é questionada com argumentos inacreditáveis, principalmente pelos apoiantes do Não. Nas ruas, outdoors e folhetos inundam a cidade de sangue. É para esclarecer, dizem, como se a condição feminina não soubesse. Votar Sim, mudar uma lei injusta, é uma exigência dos novos tempos. Tempos de modernidade, tempos de uma nova Europa dos cidadãos e cidadãs, onde este país está inserido.
Como nem sempre os melhores anúncios de oportunidade são veiculados nos espaços comerciais, uma cena brilhante, com duas atrizes fantásticas, fez o favor de colocar um dos argumentos utilizados pelos apoiantes do Não em pleno horário nobre. Foi numa cena em que a Doutora Helena e a avó dos gémeos, do Páginas da Vida, se encontram frente a frente, numa conversa carregada de emoção. O diálogo entre as duas, no contexto da novela, mais do que perfeito. Como argumento para a Campanha do momento, imperfeito e tendencioso.
Acredito que nada do que entra na nossa telinha é por acaso, principalmente se levarmos em consideração que este capítulo foi veiculado num domingo à noite. Por isso, a campanha pelo Não já começou. E, mais uma vez, sem levar em conta que o que está em causa no referendo é a clandestinidade do ato, prejudicial à saúde física e psíquica da mulher. Um Sim à cena. E um Não à oportunidade perversa e manipuladora.


2 comentários:

Lord Broken Pottery disse...

Querida Marise,
Fico por aqui, torcendo pelo Sim aí, aqui, everywhere.
Kisses

Anônimo disse...

Yes!
K. Lady Madonna