sexta-feira, novembro 26, 2010

Sem respostas

Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil…E a guerra no Rio continua - difícil mesmo é ter que explicar para os meus colegas portugueses o que está acontecendo, debaixo da saraivada de perguntas, quase um interrogatório, a que estou sendo submetida a cada nova notícia, a cada imagem nos telejornais. É tiro pra todo o lado e nem sempre com a melhor das intenções - a imagem da cidade maravilhosa precisa ser abatida, custe o que custar. Na guerra das palavras, vence quem conseguir permanecer o maior tempo calado, em silêncio, em respeito aos que ainda precisam se desviar das balas perdidas e das respostas sem muito sentido que riscam o tempo e o espaço da sala. Cidade Maravilhosa, coração (ferido) do meu Brasil…

domingo, novembro 21, 2010

O Dia Seguinte...

Hoje, Lisboa amanheceu de ressaca depois de assistir ao bombardeio de notícias, conferências de imprensa, entrevistas, comentários, análises, chegadas e partidas sobre os mais de 40 líderes mundiais que passaram por aqui durante a Cimeira da Nato/Otan.

Nesses últimos dois dias era impossível não saber que havia algo no ar além dos aviões de carreira. Nos cafés ou em frente às televisões, muitos lisboetas aguardavam pacientemente as matérias que os incansáveis jornalistas tentavam fazer para sair do chamado lugar comum - a meu ver sem grande sucesso, apesar do reconhecido esforço de todos. Profissionais sempre atentos, entenderam rapidamente que o “briefing” já havia sido dado e discutido pelos interessados, e que as peças finais se resumiam à clássica foto de família com todos os líderes presentes e a um folheto azul com onze páginas - o Conceito Estratégico - apresentado logo no primeiro dia da conferência com visível orgulho pelo secretário-geral da Nato/Otan, Anders Ramussen, nunca sem antes dizer o já conhecido “também disponível online”.

Pronto, caiu a ficha - para combinar, de metal como as balas. Como um tiro certeiro e com o sigilo necessário, o mundo mais ou menos informado descobriu que a campanha já estava pronta, mas ainda faltava o mais difícil - apresentar aos interessados o que já havia sido decidido. Entre encontros diplomáticos pelos corredores, reuniões bi-laterais e declarações previsíveis, ficaram sabendo no “timing” certo e com tradução simultânea, do quanto ainda vai custar em tempo, vidas e dinheiro, a difícil saída do Afeganistão, o indestrutível escudo de defesa antimíssil na Europa e o enterro dos fantasmas da Guerra Fria. A ameaça agora está na Ásia, avisaram os poderosos antes de partir…

Na despedida, sem perder tempo, alguns governantes ainda foram fotografados dando apertos de mãos e acenando de dentro dos seus carros blindados. Outros, como o combinado, fizeram os mais que justos agradecimentos à organização e para não haver maiores dúvidas, um aviso que caiu sobre os corações e mentes dos mais desavisados - em 2012 a Cimeira Nato/Otan será realizada nos Estados Unidos. Quem viver, verá.

sexta-feira, novembro 19, 2010

Chove lá fora...

Lisboa, segurança máxima. A capital do país de brandos costumes recebe até amanhã mais de 40 líderes mundiais para a Cimeira da Nato/Otan. Para ficar no centro da agenda internacional, Portugal mais uma vez empresta por dois dias os seus magníficos espaços, a presença de seus representantes e a paciência de seus cidadãos em nome da segurança dos povos, das ameaças ocultas, das missões de paz que nunca terminam e das novas estratégias que os nossos governantes estão sempre a planejar.

As comitivas não param de chegar e só Barack Obama traz mais de 900 pessoas. No Centro de Imprensa, tudo preparado para receber 2400 jornalistas. Lá dentro, a mais alta tecnologia, antenas poderosas, telões gigantes com avisos em todas as línguas e os jornalistas que andam para lá e para cá em busca das mais recentes conferências de imprensa, notícias e informações. Cá fora, revistas policiais, trânsito condicionado, avenidas interrompidas para a passagem dos que não podem perder tempo e o ponto facultativo, oferecido como brinde à população. Fiquem em casa e não atrapalhem - pareciam dizer os sinais para pedestres que desde ontem à noite acendiam e apagavam nas esquinas já quase vazias do velho centro histórico. Cercados pelas câmeras dos profissionais, políticos discursavam na Praça Camões e manifestantes deitavam nas calçadas fingindo de mortos, fazendo o seu momento de história, bem em frente aos postes de luz com caravelas penduradas num flash-mob nada programado. Descendo a ladeira, lá íamos nós apressados para não perder o horário do trem de volta pra casa.

Hoje, no Parque das Nações, na parte moderna da cidade, tudo irá acontecer em encontros marcados nas salas do enorme pavilhão. Na agenda, a nova estratégia para o Afeganistão, as relações com a Rússia e uma nova imagem para a Nato/Otan, palavras que leio e ouço repetidamente na TV. É aí que mora o perigo, penso, enquanto da minha janela observo como os adoradores de aviões, um enorme jato (Air Force One?) que cruza o espaço aéreo exclusivo. Eles estão chegando e elas também. Para as senhoras, programas especiais - visita ao Museu da Moda, almoço com copos de cristais e lindas porcelanas Vista Alegre e para as que não estão de dieta, deliciosos pastéis de Belém, símbolos da boa hospitalidade portuguesa. Do alto dos seus saltos, com certeza vão agradecer com amáveis sorrisos e um o-bri-ga-da!

Chove lá fora. Do outro lado do rio Tejo, enquanto escrevo, boa parte do mundo está reunido em busca de soluções. Continua a chover, mais forte agora - um bom dia para arrumar as gavetas com as roupas do inverno e um bom dia para que os senhores da guerra resolvam tirar de uma vez por todas, todos os esqueletos do armário num dos maiores desafios deste novo século. Lisboa, vontade máxima.

sábado, novembro 06, 2010

Café e pão com manteiga

Anúncio importante - pequeno-almoço é o mesmo que café-da-manhã? Esta dúvida acaba de ser resolvida para os muitos brasileiros que chegam por aqui e ainda no hotel têm de começar a entender as diferenças, os hábitos e o sotaque dos portugueses. Para todos, uma boa notícia que veio no jornal de hoje - a palavra café-da-manhã acaba de tirar o passaporte linguístico entrando para o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, editado desde 1792. Portanto, se um dia passar por Lisboa, nada de ficar em jejum até que uma voz amiga venha ajudar na tradução e, aí ou aqui, enfrente um brasileiríssimo café-da-manhã sem esquecer de deixar os tracinhos, as migalhas do pão torrado, entre um gole e outro de café.