quarta-feira, abril 30, 2008

On Off

Tenho acompanhado todas as etapas deste tristíssimo e monstruoso episódio do caso Isabella. Mesmo com um oceano a nos separar, é impossível não ouvir, não comentar e fugir da vontade de julgar e dar opiniões. Sigo sempre assustada às próximas cenas deste CSI São Paulo, com a certeza de que as boas e más notícias voam e na era em que vivemos, perderam de vez a vergonha e as distâncias.

Quando menos se espera, somos levados a assistir a mais um espetáculo mediático onde o número principal não é o dos jornalistas que fazem o seu trabalho, dos editores competentes, deste arsenal tecnológico de todos os dias ou do batalhão de polícias e peritos quase sempre atentos. Assombrados, constatamos que o edifício London, palco desta tragédia toda, não fica nada a dever ao Ocean Club, resort de classe média alta, onde há exatamente um ano desapareceu a menina inglesa no Algarve.

No rufar dos tambores o salto sem rede é que a vida real está ali, agora muito mais próxima de nós, na janela de um sexto andar ou no térreo de uma varanda ensolarada, capturada por uma câmera qualquer. Com um olhar mórbido e penalizado fazemos ON em vez de OFF e, gostando ou não, ficamos com as emoções em suspenso. O ingresso para a próxima temporada deste circo dos horrores já está à venda e custa caro.

sexta-feira, abril 18, 2008

O desacordo ortográfico

Enquanto os homens exercem e discutem o sai não sai do novo acordo ortográfico, outros já começaram a se despedir da grafia das suas palavras preferidas e chegam mesmo a declarar que vão sentir saudade do trema da linguiça. Nada contra, muito antes pelo contrário… Em causa está uma série de alterações na forma como algumas palavras vão passar a ser escritas e acentuadas. Coisas como o p de óptimo que vai embora, o hífen que não irá fazer a menor falta no fim de semana e o c de actual que cai para deixar tudo mais simples, mais atual. Para que não haja maiores confusões, certas palavras até vão manter a dupla grafia para lembrar que Portugal e o Brasil, apesar de países irmão, não são gémeos/gêmeos. E o melhor de tudo - o K, Y e o W, banidos num passado recente, voltam a fazer parte da família das 26 letras do nosso alfabeto.

Por cá, os mais interessados tentam prestar atenção nos prós e contras dos artigos de opinião, debates, entrevistas, matérias de revistas, declarações, sugestões, concursos televisivos e até numa conferência internacional realizada para discutir tema de tão grande relevância. Sem poder meter a colher, os verdadeiros donos da língua - os 200 milhões de falantes espalhados por todo o mundo - continuam de boca aberta e com o prato ainda vazio, aguardando pelas novas regras dessa sopa de letrinhas que já está demorando muito a ser servida.

Por perto, mas ainda distantes deste pode não pode, eles continuam a conversar via web e SMS inventando uma grafia toda própria, cheia de símbolos e novas palavras, numa comunicação muito especial - os jovens portugueses dos 15 aos 24 anos enviam em média, 29 mensagens escritas por dia através dos seus celulares, revelam os resultados do Barômetro das Telecomunicações relativos ao mês de março. De facto - ou será de fato - o futuro da língua está à salvo. Aguardem.